http://www.midiasemmascara.org/artigos/movimento-revolucionario/14570-capeletti-gay.html
ANTIGAMENTE, em toda família que se prezasse havia um gay e ninguém morria disso. Se não fosse o filho, seria o neto. Se escapasse o neto, seria o primo. Ou o sobrinho. Ou o filho do primo. Não havia reunião familiar – entendendo-se por familiares todos aqueles mais próximos, de convivência diária ou quase, somados à horda de desconhecidos que invadem os velórios e os casamentos – sem que aparecesse algum infante com trejeitos e posturas excêntricas, e inflexões vocais suspeitíssimas.
Os parentes – que até então se desconheciam com rigor – arrumavam logo interesse comum, e comentavam: “Esse não é o Fulano, filho de Beltrana? Nossa, como ele está... mudado”. “É, também achei. Parece que fez faculdade de design, mas agora mexe com teatro”. Esta era a vida, nos tempos bons em que a homossexualidade não era outra coisa senão homossexualidade. Uma coisa que existia.
Os tempos são outros e os gays, admita-se logo, não se contentam. As estripulias de Maio de 68 pretendiam libertar o erotismo dos rígidos padrões morais da sociedade burguesa e cristã (que, àquela altura, já nem eram tão rígidos, nem tão cristãos). Ao que parece, o objetivo foi atendido. Mas isso – é evidente – não basta. Agora os gays querem o contrário do que então queriam: querem casa, querem comida, querem roupa lavada. Querem aliança, filhos e seguro-saúde. Querem discutir relação e, quem sabe, sonhar com dias melhores e mais livres. De novo. Gays são reacionários. Vejam só.
Era uma vez, Guido Barilla, dono da fabricante de massas Barilla. Ao programa de rádio La Zanzara, ele comete a imprudência inaceitável de dizer o que pensa. Ninguém pode dizer o que pensa, salvo se disser que pensa o que pensam todos. Ele disse que “nunca faria um comercial com uma família homossexual... se os gays não gostarem, eles podem procurar outras marcas para comer". Súbito: guerra mundial marcada para a próxima parada, choro, comoção, boicote, carnaval fora de época na Bahia. Os gays não comem mais as massas fabricadas pela Barilla. Os gays não comem mais as massas italianas. Os gays não comem mais os italianos, ponto.
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